Prof. Chintamani Alves (Instituto Federal Baiano)
A ciência da História investiga a experiência dos seres humanos no tempo a partir dos vestígios, os famosos documentos (jornais, documentos criminais, cartas). Os historiadores elaboram narrativas, mas não contam o passado como “realmente” ocorreu, mas a versão mais verossímil possível, sustentada em fontes que são examinadas com rigoroso método. Como a disciplina é necessariamente de contexto e análise da experiência humana, ela pode dar uma contribuição fundamental para combater a pandemia da Covid-19 na medida em que chama atenção para não replicarmos acriticamente a experiência dos outros países, precisamos observar a característica específica de nossa sociedade, profundamente marcada por desigualdade social, de raça e gênero.
A essa altura do avanço da doença já sabemos do aumento do índice de violência doméstica contra a mulher, assim como da elevação maior ainda de sua sobrecarga de trabalho com o as atividades do cuidado. O racismo estrutural que se manifesta na disparidade de renda, doenças crônicas como diabetes e hipertensão, entre outros elementos, colocou a população negra como os mais atingidos com a pandemia. Portanto, é necessário estar atentos as condições históricas que permitem que esses grupos sofram com a doença para gestarmos políticas públicas que visem sanar essas debilidades.
Para elaborar a versão do passado os historiadores não acreditam que as informações dos documentos são o que de fato ocorreu, eles contextualizam, cruzam dados, verificam a intensão de seu produtor, eles fazem a crítica da fonte. Essa característica é relevante para nosso tempo em que existe uma abundância de informações, muitas delas maliciosas como as fake news. Portanto, a ciência da História contribui para uma formação que nos permita um olhar desconfiado, que cheque as informações, teste a validade dos argumentos, extraia evidências e significado em fontes diversas.
A multiplicação de casos de contágio e a elevação cada vez mais rápida do número de mortes não necessariamente pode vir acompanhada de indignação com a perda dessas vidas. É fundamental ter em mente que cada número é uma pessoa, que tinha amigos, família, trabalho, enfim, que vai deixar saudades. A História não reduz suas investigações a números e estáticas, prima por rostos, coletividades e biografias, trajetórias, gente de carne e osso. Portanto, um bom conhecimento histórico permite ter sensibilidade para se incomodar com cada vida perdida.
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