A Economia Política da Pandemia
Contenção de crises no Brasil e seus reflexos no mundo do trabalho sob as lentes da sociologia
Por Maurício Rombaldi
No Brasil, o começo de 2020 já se apresentava desolador, em razão das crises política e econômica enfrentadas pelo país. Ao final do primeiro trimestre do ano, o COVID-19 surgiu para agravar este cenário, com a instalação de uma crise sanitária. Impôs, com isso, um momento de inflexão impostergável sobre as políticas adotadas pelo governo federal. Na noite de domingo, 22 de março, foi lançada a Medida Provisória 927, que previu, dentre outras questões, a possibilidade de suspensão de contratos de trabalho por até 4 meses. Mesmo que, menos de 24h depois, sob forte pressão de diferentes setores da sociedade, o governo tenha retrocedido ao lançar dúvidas sobre a implementação parcial ou completa da MP, o simples fato de a ideia ter sido lançada já sinaliza a manutenção do ímpeto de flexibilização ou supressão de direitos trabalhistas, acompanhada da injeção de recursos e incentivos a empresários como estratégia principal de amenização dos efeitos das crises que se amontoam
Covid-19: escalas da pandemia e escalas da antropologia
Por Jean Segata
A internacionalização da ciência e da saúde a partir do fim do século XIX até a sua aposta na transnacionalização por meio da Global Health nos acostumou com o cruzamento de fronteiras e escalas. A promulgação da universalidade dos vírus, das bactérias, e dos vetores e seus efeitos têm permitido desde então a colonização dos conhecimentos locais sobre saúde e doença. Quando uma doença como a Covid-19 se espalha, ela leva consigo a sua ciência e suas técnicas. Ela transpõe métricas locais, estatísticas e ações, e isso pode provocar inúmeros equívocos. Os números podem ser universais, mas os fenômenos e experiências que eles descrevem não são. Ciências Sociais são imprescindíveis neste momento para pensar de forma situada os seus efeitos.i
A Globalização Perversa da COVID-19
A confirmação do primeiro caso da COVID-19 no Brasil mostra que a circulação de pessoas no mundo globalizado reflete a perspectiva difundida pelo geógrafo Milton Santos a respeito da Globalização Perversa, quando afirma que enquanto a ação humana se mundializa por meio da tecnologia – aparelhos e fluxo de capital - todavia essa perversidade apresenta a fragilidade da técnica e os avanços da tecnologia. No caso do novo coronavírus, não demorou muito para que se disseminasse nos demais continentes, atingindo todas as classes sociais, sendo ele capaz de promover o fechamento das fronteiras, para proibir a circulação de pessoas, evitar a conectividade, na tentativa de conter e minimizar as redes de contágio.
Violências contra mulheres em tempos de COVID-19
Por Patrícia Rosalba Salvador Moura Costa
Em tempos de confinamento por causa do COVID-19, órgãos internacionais, organizações não governamentais, movimentos feministas, estudiosas, ativistas dos direitos humanos e algumas instituições de governos estaduais têm chamado a atenção para a possibilidade de agravamento das violências contra mulheres. A relatora especial da Organização das Nações Unidas sobre violência contra mulheres, Dubravka Simonovic, destacou que esse problema pode aumentar durante a quarentena, porque o lar pode ser um lugar de medo e abuso para mulheres e crianças, e indicou, ainda, a necessidade de os entes federativos promoverem ações constantes de defesa às mulheres e de combate às violências domésticas.
Carta das Entidades de Saúde Coletiva e de Bioética à população brasileira:
Imprescindível o respeito aos direitos humanos e ao conhecimento científico na resposta urgente à Covid-19
A Organização Mundial da Saúde (OMS) vem traçando diretrizes de enfrentamento da doença a partir do momento em que foi caracterizada sua magnitude e relevância para todo o mundo.
A produção do social em tempos de pandemia
Se não é novidade que no noticiário as editorias de ciência, economia e política se embaralhem - ao discutirmos a exploração de campos de petróleo ou a liberação de sementes transgênicas, por exemplo - durante uma pandemia a forma como nossa vida em sociedade depende e está entrelaçada a elementos não humanos fica ainda mais clara. No entanto, como a teoria social tem entendido o papel de um agente tão poderoso, como o Covid-19, na produção e alteração das nossas formas societárias modernas? E qual a sua contribuição para pensarmos e agirmos no mundo contemporâneo?
Contenção de crises no Brasil e seus reflexos no mundo do trabalho sob as lentes da sociologia
No Brasil, o começo de 2020 já se apresentava desolador, em razão das crises política e econômica enfrentadas pelo país. Ao final do primeiro trimestre do ano, o Covid-19 surgiu para agravar este cenário, com a instalação de uma crise sanitária.
Impôs, com isso, um momento de inflexão impostergável sobre as políticas adotadas pelo governo federal. Na noite de domingo, 22 de março, foi lançada a Medida Provisória 927, que previu, dentre outras questões, a possibilidade de suspensão de contratos de trabalho por até 4 meses.
A História da disseminação dos microrganismos
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Antropologia das doenças transmissíveis
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Boaventura de Sousa Santos: A Cruel Pedagogia do Vírus
A actual pandemia não é uma situação de crise claramente contraposta a uma situação de normalidade. Desde a década de 1980– à medida que o neoliberalismo se foi impondo como a versão dominante do capitalismo e este se foi sujeitando mais e mais à lógica do sector financeiro–, o mundo tem vivido em permanente estado de crise. (...) a pandemia vem apenas agravar uma situação de crise a que a população mundial tem vindo a ser sujeita. Daí a sua específica periculosidade. Em muitos países, os serviços públicos de saúde estavam mais bem preparados para enfrentar a pandemia há dez ou vinte anos do que estão hoje.
Holocaustos Coloniais - Clima, Fome e Imperialismo na Formação do Terceiro Mundo
Em "Holocaustos Coloniais - Clima, Fome e Imperialismo na Formação do Terceiro Mundo" (Ed. Record, 490 pags), o escritor norte-americano Mike Davis usa o fenômeno El Nino para explicar as secas que assolaram regiões como o Brasil, a Índia, a China e o norte da África no final do século 19, e retratar como a pobreza do Terceiro Mundo se formou nesses locais.